Segundo rezam as notícias da altura, foi uma tomada de posição da população local, consciente do valor histórico do edifício, que impediu a demolição, promovendo a sua salvaguarda.
O edifício, com mais de 4000 m2 de área útil, foi construído em 1890 pela "Maschinenfabrik Oerlikon", um fabricante suíço de motores e locomotivas elétricas (fig. 1). Esta empresa foi comprada em 1970 pela Brown Boveri, a qual veio a fundir-se, por sua vez, no grupo industrial suíço ABB. São, ainda hoje, as iniciais da primitiva empresa que dão o nome ao edifício, construído para alojar os escritórios. Em 2010 o edifício escapou à demolição e passou a integrar o portfólio da Swiss Prime Site AG, uma das maiores imobiliárias suíças, aparentemente com a condição de o deslocar para permitir aos caminhos-de-ferro suíços construir uma nova linha paralela às já existentes na estação. O valor da localização "prime", que justificou um investimento de 12 milhões de francos suíços pela imobiliária, não deve, portanto, ter sido estranho à viabilização desta importante operação de engenharia.
A preparação começou em agosto de 2010, desligando e refazendo as infraestruturas e instalações de serviço. Os trabalhos de escavação no novo local decorreram entre 2011 e 2012. Foi construído um caminho de rolamento constituído por vigas e roletes de aço. O edifício, com 80 metros de comprimento e 6 200 toneladas de peso, foi, então, deslocado 60 m segundo o seu eixo longitudinal (figs. 2, 3 e 4), utilizando equipamento hidráulico. Segundo as descrições da operação, a deslocação demorou cerca de 18 horas, a uma velocidade da ordem dos 4 metros por hora. A população acompanhou com interesse a salvação do "seu" edifício MFO (fig. 2), que foi, por fim, objeto de uma renovação dos interiores, concluída em 2013.
Em termos de perturbação do tecido urbano, a deslocação do edifício de Zurique pode considerar-se cirúrgica. No entanto, as deslocações de edifícios históricos aparecem também associadas a intervenções altamente intrusivas, como alternativa à demolição e reconstrução, se não ao puro e simples aniquilamento. Ficaram para a história casos como as grandes destruições promovidas em Bucareste pelo regime de Ceausescu no âmbito do tristemente famoso programa de "Sistematização". Com essa intervenção, levada a cabo nos anos oitenta a pretexto dos danos causados pelo terramoto que abalou a cidade em 1977, foram demolidos cerca de 500 hectares da cidade, dos quais cerca de metade correspondiam a áreas urbanas de importância histórica.
Em Lisboa, uma tal intervenção corresponderia, em termos de área, a demolir toda a Baixa, o Bairro Alto, a Avenida da Liberdade, a Colina de Santana, as Avenidas Novas e parte de Alvalade, até Entrecampos.
A operação levada cabo pelo regime de Ceausescu incluiu a deslocação de oito igrejas, entre elas a de Santo Elias, situada no bairro de Rahova (figs. 5 a 8). Olhando para o seu atual esplendor, dificilmente se adivinham as vicissitudes por que passou. Para além de dois mosteiros, outras dezanove igrejas cristãs ortodoxas, três igrejas protestantes e seis sinagogas tiveram menos sorte e foram demolidas.
Nota: Ver todas as figuras na galeria em baixo.