Os temas abordados vão desde o alerta para casos de património construído em risco grave de degradação ou, mesmo, de perda total, até à defesa do primado da reabilitação do edificado existente como alternativa à construção nova, passando pelas políticas de salvaguarda e gestão dos edifícios e centros históricos e pelas opções quanto à sua valorização.
Para além do contributo sustentado que deu à Pedra & Cal, Nuno Teotónio Pereira foi, também, em consonância com Cesare Feiffer, um aliado do GECoRPA na defesa duma postura de low profile na conceção e projeto das intervenções em construções com valor patrimonial, tantas vezes desvalorizadas pelo excessivo protagonismo de alguns arquitetos. Em lugar de se olhar para o edifício histórico como a simples sobreposição de sucessivas modificações e atualizações, e com isso legitimar a pretensa missão de também os de hoje nele deixarem a sua marca, defendia uma projetualidade diferente, subordinada ao existente, mais respeitadora e atenta ao construído, evitando o confronto entre passado e presente, em que, muitas vezes, o primeiro se tornar o simples pano de fundo para a celebração do segundo.
E apontava que, mesmo em simples intervenções de reabilitação, nem por isso é menor o desafio colocado à criatividade do arquiteto: Numa entrevista de 2001 à Arte & Construção, argumentava: "Há uma certa visão de muitos arquitectos em relação às obras de reabilitação, segundo a qual estas não permitem um uso pleno da criatividade por parte do autor. Ora, isto não é verdade. O que não falta são casos de reabilitações em que a criatividade está presente, muitas vezes de um modo notável."1
A perda de visão e a debilitação física impediram, a partir de 2009, Nuno Teotónio Pereira de continuar a enriquecer a P&C com o seu contributo, mas os seus escritos e o seu exemplo serão, certamente, fonte de inspiração para muitos dos jovens arquitetos de hoje.
Vítor Cóias
Diretor da Pedra & Cal
1. Arte & Construção, 122, Fev. 2001, pp. 7, 8 e 10.