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Empresa espanhola De Prado Portugal S.A. arrasa dezenas de sítios arqueológicos no Alentejo

Terrenos para plantio, 9 de outubro de 2017. Imagem de Rui Gaudêncio (jornal Público on-line)
Terrenos para plantio, 9 de outubro de 2017. Imagem de Rui Gaudêncio (jornal Público on-line)

Um problema que não é novidade ganhou nova projeção e dimensão com a denúncia feita pela Direção Regional da Cultura do Alentejo (DRCA) junto do Ministério Público (MP) em Beja e da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) a propósito da preparação de terrenos para plantio de um amendoal pela empresa de capitais espanhóis De Prado Portugal S.A., que arrasou em cinco meses duas dezenas de sítios arqueológicos assinalados no Plano Diretor Municipal de Beja, numa área de 3.000 hectares a 6km de Beja.

A identificação dos vários sítios arqueológicos datava desde o período calcolítico até ao período moderno, entre eles uma ponte, um aqueduto e uma villa de época romana, dos quais nada sobra. Além disso a movimentação das terras deixa a descoberto todo um conjunto de fragmentos e vestígios metálicos que atraem indivíduos com detetores de metais cuja intenção é negociar os achados.

Apesar das sucessivas notificações e tentativas de comunicação por parte de várias instituições como a Câmara Municipal de Beja, a Direção Regional da Cultura do Alentejo, a Direção Geral do Património Cultural e o jornal Público com a empresa espanhola De Prado Portugal S.A., esta prosseguiu com os trabalhos de ripagem dos terrenos desrespeitando as sucessivas notificações para travar o revolvimento dos solos, tendo-as suspendido apenas "depois de o Tribunal Judicial de Beja ter ordenado a sua suspensão e não após a notificação das entidades administrativas competentes", segundo nos informou Hugo Porto, técnico superior da DRCA. Sabe-se que estão ainda decorrer investigações derivadas da queixa-crime apresentada pela DRCA ao Ministério Público e das quais ainda não existem resultados sobre os quais se possa ajuizar.

Por todo o Alentejo há denúncias de casos semelhantes, locais destruídos pelos mesmos motivos e posteriormente predados o que indica negligência ou lacunas de comunicação. Ainda em contacto com a DRCA, o GECoRPA inquiriu sobre a sua perspetiva quanto a este tipo de problema, que medidas tomar para melhorar a relação entre projetos de investimento agrícola e a legislação que protege o património. A DRCA deu nota de várias questões que necessitam de revisão, e segundo esta entidade o "ordenamento jurídico relativo à atividade arqueológica está incompleto, carecendo de desenvolvimento algumas normas respeitantes à definição do regime de reserva arqueológica, ao regime das cartas arqueológicas, a providências limitativas da modificação do uso, da transformação e da remoção de solos até que possam ser estudados os testemunhos que se saiba ou fundamentadamente se presuma ali existirem". Alertou também para a falta de informação dada aos proprietários que nas suas explorações tenham património cultural e da aplicação de incentivos tais como "benefícios e incentivos fiscais relativamente a operações de arqueologia preventiva". Acrescentou que o controlo destas operações agrícolas sofre de discrepâncias administrativas acentuadas e que a maioria dos casos não obriga a consulta das entidades de proteção do património.

Segundo a DRCA, a ausência de protocolo entre o Ministério da Agricultura e as instituições de tutela e defesa do património cultural, de "legislação intersectorial" e de outros esquemas de colaboração estão na origem dos problemas de comunicação para proteção do património arqueológico.

Ligações
www.publico.pt/2017/10/09/local/noticia/beja-ponte-romana-e-sitios-arqueologicos-foram-destruidos-para-plantar-amendoal-1787981

29/11/2017

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