Apesar dos 2 milhões de euros fornecidos pelo Estado Francês, que tutela o edifício desde 1905, e dos cerca de 4 milhões angariados anualmente pela Fondation Avenir du Patrimoine a Paris, junta-se outro apelo, o do arcebispado de Paris que para o efeito criou a associação de amigos da catedral, de forma a promover a recolha de fundos.
O diretor de comunicação da catedral, André Finot, nas suas declarações à Boulevard Voltaire, afirmou que prevê serem necessários no mínimo 100 milhões de euros, recolhidos num prazo de 20 anos, para intervir na catedral e devolver-lhe a sua dignidade construtiva. Além destes esforços, Andrew Tallon, investigador americano, especialista mundial em catedrais francesas, sugeriu que este apelo fosse também dirigido aos Estados Unidos da América tendo por base a grande tradição de mecenato norte americana e a sua paixão pela pedra, da qual pouco conhecem. Além disso, refere que é norma elevar o valor das doações quando existem cidadãos norte americanos dedicados ao estudo e protecção deste tipo de património a nível internacional.
A catedral é anfitriã de cerca de 14 milhões de visitas por ano, com entradas gratuitas, padecendo não só das adversidades climatéricas e da poluição atmosférica, bem como deste fluxo humano, revelando que o turismo tem impacto nos sítios históricos e deve ser controlado. O edifício testemunhou variados momentos destrutivos do seu espaço, desde as acções dos huguenotes (séc. XVI), as pilhagens durante a Revolução Francesa (séc. XVIII), e os danos causados pela II Guerra Mundial. Também foi palco de campanhas de reabilitação, como por exemplo as dos arquitectos Jean-Baptiste Lassus e Eugène-Emmanuel Viollet-le-Duc, em 1844. A atualidade revela outro tipo de destruição e exige outra dimensão nos trabalhos de reabilitação que não podem ser descurados sob pena de se perder o privilégio de visitar o edifício, estudá-lo em segurança e mantê-lo através das suas atividades culturais e religiosas.
Breve contextualização histórica
A catedral de Notre Dame de Paris é um emblema nacional francês, localizado no coração da capital, tendo iniciado o seu percurso construtivo por volta de 1160 e terminado em 1345. Monumento histórico, de feição gótica e devoção católica, alicerça-se numa longa história de acontecimentos que lhe conferem uma aura de magnitude religiosa e política na Europa. Entre eles podemos elencar a entrega à custódia da catedral da relíquia da coroa de espinhos (1239), comprada por Luís IX, rei de França, a Balduíno II, Imperador em Constantinopla, um célebre conjunto de cerimónias matrimoniais que tomaram lugar no solo sagrado do edifício, como o casamento de Henrique V e Margarida de Valois (1572), e a coroação de Napoleão (1804), evento político, que no decorrer da década seguinte, viria a banhar a Europa em pólvora e sangue.
Na atualidade tem celebrado missas de requiem para presidentes franceses, como De Gaulle (1970) e Mitterrand (1996), exibe todas as primeiras sextas-feiras de cada mês a relíquia da coroa de espinhos. Além disto é diariamente anfitriã de turistas provenientes dos vários cantos do mundo.
Vídeos e entrevistas
REUTERS: www.reuters.tv/v/qLY/2017/08/29/notre-dame-s-crumbling-gargoyles-need-help
Figaro: video.lefigaro.fr/figaro/video/notre-dame-de-paris-un-appel-au-dons-pour-sauver-la-cathedrale/5490034015001/
Donativos para esta causa
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Diana Carvalho