Dos cerca de 18km de comprimento e 7km de largura sobram apenas 20% de área não ardida. Este foi um dos resultados dramáticos dos vários incêndios que assolaram todo o país no passado fim de semana de 15 para 16 de outubro, ceifando e desalojando dezenas de vidas e obrigando o Governo a declarar, novamente, o estado de calamidade pública.
Ainda por apurar atualmente as causas e responsabilidades deste e de todos os outros incêndios, sabe-se que não é a primeira vez que o Pinhal do Rei arde quase na totalidade.
Os autores Flora Ferreira-Leite, António Bento-Gonçalves e Luciano Lourenço dão nota, na obra "Grandes incêndios florestais em Portugal Continental. Da história recente à atualidade", de um incêndio ter consumido várias centenas de hectares da floresta em 1824, e em 1916, o poeta e jornalista leiriense Acácio de Paiva, publica no jornal "O Século" um artigo sobre um incêndio de grandes dimensões que naquele ano consumiu quase todo o pinhal. Curiosamente, em 101 anos a descrição feita pelo jornalista acerca da falta de meios para combater o fogo assemelha-se à experiência vivida este passado fim de semana: "Na fúria com que toda a gente se atirava ao fogo não havia visivelmente um plano de ataque, executando a uma voz imperiosa de comando; mas havia uma perícia e uma tática individuais que davam ao conjunto dos esforços uma admirável unidade de ação."
E as questões colocadas relativamente ao futuro do pinhal também ecoam na atualidade: "Serão [os planos para diminuir os incêndios] ao menos eficazes? Conseguir-se-á uma vigilância suficiente e permanente? Não se voltará, passada a impressão da catástrofe, à indiferença do costume?"
Além dos incêndios é de conhecimento público que o pinhal tem diminuído drasticamente a sua área por outros motivos: a pressão demográfica, o parcelamento e venda, empreendimentos privados, aparecimento de parques industriais, exploração madeireira e substituição do pinheiro bravo por eucalipto.
É urgente que se discuta o futuro desta e de todas as outras florestas nacionais que são património natural mas também histórico e, muitas das vezes, cultural.
O pinhal de Leiria subsidiou consideravelmente a História de Portugal no período dos Descobrimentos, marcou o início do cultivo intensivo de pinheiro bravo em Portugal, acolheu dezenas de espécies animais e vegetais, foi solo de vários pontos de interesse e utilidade pública (postos de vigia, fontes, parques de merendas, etc.), tem sido palco de atividades pedagógicas e recreativas, manteve-se fiel ao seu propósito original prevenindo até aos dias de hoje o avanço das dunas, providenciou vários quilómetros de sombra, e cumpriu muitas outras funções úteis à população, por isso, oferecemos-lhe uma nota de apreço nesta secção de notícias.
Contextualização histórica
É a D. Dinis (1279-1325) que se atribui o maior crédito pela existência e fama do Pinhal de Leiria conforme o conhecemos hoje. A plantação do pinhal deveu-se a razões estratégicas relacionadas com o avanço e degradação das dunas que impediam a rentabilização dos terrenos costeiros, e com a necessidade de proteger território habitado e cultivado em redor da cidade de Leiria das areias trazidas pelo vento. E, sem que se suspeitasse no século XIII, este pinhal viria a ser a fonte principal de matéria prima onde o período dos Descobrimentos foi talhar a sua frota naval. Em 1597, durante a dinastia filipina regulamentou-se o aproveitamento e vigilância do pinhal. Em 1835 deixa de ter Guarda-mor.
O pinhal é sempre jovem, pois ao longo da sua existência tem servido o propósito de providenciar a população e as indústrias com o combustível necessário ao seu desenvolvimento. No século XVIII e XIX dele se alimentaram a indústria vidreira, metalúrgica e de produtos resinosos (por via da extração da goma dos pinheiros), bem como servindo de matéria-prima para produção de energia tanto para as indústrias como para habitações.
A história do pinhal é feita de renovação constante pois, por cada parcela utilizada, esta era novamente plantada.
Ligações
Queixa a à Procuradoria-geral da República: www.jornaldeleiria.pt/noticia/cidadaos-da-marinha-grande-enviam-queixa-procuradoria-geral-7360
Ações de sensibilização: www.jornaldeleiria.pt/noticia/cordao-humano-e-manifestacao-contra-atrocidades-provocadas-p-7362