Ser associado do GECoRPA pode abrir-te a porta a um mundo de oportunidades! Se tens 40 anos ou menos, junta-te a nós, aproveitando a campanha Associado Júnior+
Para satisfazer o seu apetite insaciável por energia as sociedades ditas mais avançadas têm vindo a construir, sobretudo a partir da revolução industrial, infra-estruturas que se tornaram notáveis pelo seu carácter inovador, pela engenhosidade da sua concepção ou, simplesmente, pela imponência das suas dimensões. Muitas dessas obras constituem, hoje, importantes testemunhos históricos e merecem, por isso, ser preservadas para o futuro.
Somam-se a este património muitas outras construções que nos chegam de um passado mais longínquo, igualmente motivadas pela necessidade de aproveitar as fontes de energia existentes na Natureza para executar mais facilmente tarefas árduas, como a moagem de cereais.
Quando se fala das torres de Alcântara, em Lisboa, por exemplo, poucos nos lembramos que ali havia, ainda no princípio do século XIX, um braço do Tejo, uma ribeira, um moínho de maré com a respectiva caldeira, e uma ponte de pedra com uma estátua de S. João Nepomuceno. Parte disso ainda lá estará, sob toneladas de entulho. Uma possível alternativa às torres poderia ser a recuperação desses elementos e a adaptação a terciário e a habitação dos velhos edifícios industriais que existem à volta. Mas, embora enriquecesse a cidade, isso não satisfaria, obviamente, a sofreguidão dos promotores.
Felizmente, noutros locais, algumas autarquias têm tido mais sucesso em encontar o equilíbrio entre a salvaguarda do património concelhio e as pressões do negócio imobiliário. As câmaras do Seixal e do Montijo são disso um bom exemplo. Graças à sua sensibilidade e inteligência, estão hoje preservados bens culturais como o moinho de maré de Corroios, mandado construír inicialmente por D. Nuno Álvares Pereira, em 1404, e outras obras idênticas se lhe seguirão.
Como temos vindo a dizer ao longo dos cinco anos que a Pedra & Cal leva de publicação, património não são só igrejas e castelos. Haja, a todos os níveis do Estado, mas sobretudo nas autarquias locais, quem tenha a lucidez de o proteger. E não será só por razões sentimentais: é que, para quem pensa em visitar-nos, um antigo moinho de maré vale mais do que as (hipotéticas) torres de Alcântara.
Lisboa, Fevereiro de 2004
V. Cóias e Silva, Presidente do GECoRPA