Revista Pedra&Cal

A Cor e o Património

Indíce

02 Editorial

03 Quadro de Honra

04 Entrevista com Engenheiro Francisco de Sousa Lobo
Os 25 anos dos Amigos dos Castelos

07 Cor e Esgrafito
Em Portugal, conhece-se pouco a dimensão da presença dos esgrafitos e o significado deste tipo de superfícies arquitectónicas. Os esgrafitos existentes não estão, muitas vezes, identificados e documentados porque ainda não são reconhecidos.
 Sofia Salema, José Aguiar

11 From the ‘plan of color’ to the ‘plan of conservation’
Theoretical issues and methodological approaches
 Maria Vitiello

14 As potencialidades da fotografia digital na reprodução da cor de pinturas a cal
a identificação, a medição e a reprodutibilidade correcta da cor começou a ser uma preocupação constante a partir do momento que as sociedades foram alertadas para a destruição, intencional ou não, dos testemunhos coloridos de uma determinada cultura
 M. Gil D. Casal e A. I. Seruya, J. Aguiar, M. Ribeiro

17 Estudos sobre pigmentos na tratadística portuguesa
 Patrícia Alexandra R. Monteiro

19 Os frescos do Paço de Vila Viçosa
Um ciclo artístico de dimensão internacional
 Vítor Serrão

24 Conservação e restauro do Património Integrado
Do Teatro ribeiro da Conceição de Lamego
 Miguel Figueiredo, Adriana Torres

26 Alteration of azurite into paratacamite on wall paintings
O pigmento azurite foi largamente utilizado na pintura europeia durante toda a Idade Média, o Renascimento, e posteriormente. A azurite foi usada para pintar os panos azuis das pinturas murais do século XVI na Igreja de Santo Alexandre.
 Giovanni Cavallo

28 Pinturas da Charola do Convento de Cristo (Tomar)
Estudo material para reintegração cromática
 N. Proença, J. Pestana, S. Valadas, A. Cardoso, H. Vargas, I. RIbeiro

31 Razão de ser e origem da Cor dos transportes públicos
 Margarida Ambrósio Fragoso

33 Os Estuques no século XX no Porto A Oficina Baganha
 Miguel Figueiredo

34 Turismo Sustentável. É possível?
O turismo é um dos sectores com maior importância para a economia de muitas regiões portuguesas, garantindo rendimentos importantes para as famílias, autarquias e empresas. É um sector cuja qualidade e desenvolvimento depende das características...
 Ana Cravinho

36 Mercado do Bolhão, Porto Levantamento arquitectónico
O edifício do Mercado do Bolhão, hoje, um dos mais emblemáticos da cidade do Porto, foi inaugurado em 1914 com o objectivo de concentrar num só local todos os mercados existentes na cidade. Caracterizado pela sua arquitectura neoclássica tardia.
 Ana Cravinho

38 As Leis do Património
O Código dos Contratos Públicos - Lançamento dos procedimentos Plataforma electrónica, internet ou papel?
 A. Jaime Martins

39 Notícias

42 Agenda

44 Vida Associativa

46 e-pedra e cal
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 António Pereira Coutinho

47 Livraria

49 Associados GECoRPA

52 Recuperação do edificado rural
Aldeias do Xisto e do Vale do Lima. E também dos Avieiros
 Nuno Teotonio Pereira

Preço: 4,48 €

N.º 39
A Cor e o Património


A "apresentação" de um edifício ou conjunto histórico, de forma a que as suas essenciais mensagens, enquanto arte e documento da história, possam ser lidas, reconhecidas e (re)transmitidas, é algo mais complexo do que parece.
 
O património religioso e os lugares sagrados fazem apelo à transcendência, à referência ao divino, que talvez seja a única característica do Homem que não tem paralelo em nenhuma espécie animal. Na sua busca do divino, o Homem escolheu lugares e neles construiu espaços aos quais atribuiu significado sagrado. Sendo sagrados, esses lugares destinavam-se a resistir ao desgaste do tempo e, por isso, neles aplicou alguns dos materiais mais resistentes que encontrou na natureza ou que soube inventar. O segredo da preservação de tanto património religioso, por contraste com as duas outras grandes áreas tradicionais do património (o militar e o civil), poderá estar nesta sábia utilização de materiais duráveis e na atribuição de um significado que inspire respeito, congregue os homens e eleve a alma.
 
É que mostrar num edifício todas as formas e entranhas, as que o estruturaram sobrepondo-se no tempo, resulta numa terrível cacofonia. Pode fazer perder o essencial sentido dos discursos, confundindo as mensagens: e a Arquitectura é um projecto de arte – funcional e construído – dado a ver. As amálgamas são testemunho e documento da história mas, necessariamente, são pouco Arquitectura, porque confundem sentidos e significados; é que a Arte só o é quando uma consciência a reconhece como tal (como dizia Argan).

A cor é impressão da luz reflectida, ou (re)transmitida, interpretada pelo cérebro humano (como toda a impressão sujeita à lei do conhecimento prévio), constituindo momento fulcral da comunicação da instância estética, de que fala Brandi, e como tal estrutura a interpretação de conteúdos essenciais a obras de arte (objectos ou cidades históricas). Esta obviedade esqueceu-se demasiado tempo, mas regressa hoje e em força.

A cor não existe sem materiais de cor, a conservação dessa materialidade e, sobretudo, o seu restauro, obrigam a um complexo processo crítico de conhecimento, de análise e de escolha, para apresentar, mantendo ou restituindo, a unidade potencial, a leitura de partituras autênticas. Por isso, diz Brandi, só se restaura a matéria da obra de arte, (…) sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem apagar nenhum sinal da passagem da obra de arte no tempo; ou seja, fugimos da fantasia como quem foge do Diabo.

A Pedra & Cal, depois de um número dedicado ao problema da conservação dos revestimentos, convida-me para ajudar noutro tema de capa: o problema da cor. Assim, incorporamos contribuições de um pioneiro encontro internacional (Colour 2008), relembrando saberes de mestres e empresas (da oficina Baganha, à Ludgero), demos espaço aos mais qualificados restauradores (como N. Proença e J. Pestana) e a artigos de investigadores fundamentais (Catedráticos como Vítor Serrão, Professores como Isabel Seruya, ou promissoras Investigadoras, como Milene G. Duarte, ou Patrícia Monteiro).

Vamos com estas (excelentes) companhias, do maior amigo dos castelos (Sousa Lobo), ao turismo (in)sustentável (H. Spínola), dos planos de cor (G. Cavallo) ao Zé. E remata-se da melhor forma: com os textos de um incansável combatente pela imprescindibilidade da cultura, Nuno Teotónio Pereira.

Um diálogo apaixonado entre a praxis e a teoria, a hermenêutica prática que é a conservação, o restauro, a reabilitação. Haverá desafio maior do que tentar salvar a cor da memória?

 
José Aguiar


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