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Os empreiteiros andam, agora, mais contentes. Pelo menos os grandes… Basta ler as crónicas e entrevistas do presidente da sua federação ou, mesmo, os títulos do jornal da AECOPS, para o constatar. E têm boas razões para isso: anunciam-se mais aeroportos, mais auto-estradas, mais pontes, mais caminhos-de-ferro, mais, mais, mais… sem olhar à rendibilidade de muitas dessas obras e, sobretudo, sem olhar à sua ineficácia enquanto estratégia de desenvolvimento. Toda a gente sabe que a construção é uma actividade de baixíssimo valor acrescentado, logo de reduzido contributo para o PIB. Também se sabe que a construção não produz bens ou serviços transaccionáveis, logo não contribui para as exportações nem para a competitividade do País. Sabe-se, finalmente, que os empregos que cria são de baixa qualificação, logo de salários que não podem corresponder às aspirações dos portugueses. No entanto, a “política do betão”, que julgávamos definitivamente ultrapassada, aí está de novo, e em força: um modelo gasto, baseado na ilusão de que a economia cresça à sombra das obras públicas.
A todas as escalas, Portugal parece andar às voltas, se não ao contrário do que devia: à escala planetária, em lugar de se aproximar das metas de Quioto, afasta-se, porque o peso futuro do transporte rodoviário, que já é o principal consumidor de energia final no nosso país, ainda vai aumentar; à escala territorial, porque em lugar de preservarmos o património natural, esbanjamo-lo, permitindo a ocupação do litoral e das zonas protegidas com os inefáveis “resorts”, esquecendo-nos que já somos, na Europa, o país em que a artificialização da orla costeira mais tem crescido; à escala urbana, porque se deixam ao abandono muitos dos centros históricos e dos bairros antigos, mas crescem os dormitórios suburbanos e surgem, de vez em quando, projectos desgarrados de torres fora de escala, à moda do Dubai; finalmente, à escala dos edifícios, porque a reabilitação em grande não arranca e continuam a predominar as intervenções avulsas, sem ao menos se conseguir ter em conta que a unidade construtiva e estrutural é o quarteirão e não o edifício. Opta-se, geralmente, por intervenções cosméticas, ou então desmantela-se o “miolo” dos edifícios antigos, empalhando-os com uma nova estrutura de betão armado. Estarei a ser derrotista? Talvez. Mas será este o caminho para a “sustentabilidade”, a todas estas escalas? É assim que se põe em prática a apregoada Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável? Alguém sabe para onde é que nos levam estas políticas? Vendo bem, Portugal está como a Alice no País das Maravilhas, quando pedia ajuda ao Gato: “Cheshire Puss,... Diz-me, por favor, em que direcção devo ir a partir daqui?” “Isso depende muito de onde é que queres chegar,” disse o Gato. “Não me preocupa muito onde…”, disse Alice. “Nesse caso não importa a direcção a seguir”, disse o Gato, “… desde que eu chegue a ALGUM SÍTIO”, explicou Alice. “Oh, de certeza que conseguirás”, disse o Gato “desde que andes durante bastante tempo.” Nós também havemos de conseguir chegar a ALGUM SÍTIO! Já para lá caminhamos há bastante tempo e está visto que vamos continuar! Não vamos é ter a sorte de descobrir, quando lá chegarmos, que era tudo apenas um pesadelo… Vítor Cóias