Revista Pedra&Cal

Conflitos de Escala

Indíce

02 Editorial

03 Quadro de Honra

04 Conflitos de escala
Os novas espacos envolventes desproporcionaram relacoes volumetricas fundamentais. 0 secular exultou-se em arranha- ceus, o divino reduziu-se a urn episodio menor, inverteram-se os nexos, o monumento perdeu a sua imponencia
 JOSE AGUIAR

08 Escalas urbanas ascendentes
 FERNANDO GONCALVES

12 Encontros e conflitos de escala na Ribeira de Lisboa
Entre muitos aspectos particulares, se algo distingue as frentes ribeirinhas centrais na generalidade das cidades.
 Joao Pedro T. A. Costa

14 As aldeias portuguesas
 LUISA REIS PAULO, MARIA CALADO

16 A pequena escala na arquitectura tradicional
Consideracoes para a pratica contemporanea
 LUISA REIS PAULO, MARIA CALADO

20 Revitalizacao das aldeias do Algarve
Entre a conservacao da memoria e a construcao de um futuro
 FERNANDO VITOR FELIX RIBEIRO

22 Revestimentos exteriores de construcoes antigas em taipa Tracos de misturas determinados em laborat6rio
 LUIS PEDRO MATEUS, MARIA DO ROSARIO VEIGA, JORGE DE BRITO

26 A reabilitacao da Casa Rodrigues de Matos
A importancia da aplicacao de uma metodologia de boas praticas de intervencao
 MARIANA MORGADO PEDROSO

29 1907 - Cem anos das Convencoes da Haia
 MIGUEL BRITO CORREIA

30 Capela de Santa Catarina, Faro
Levantamento e modelacao 3D
 CARLOS MESQUITA, ANA CRAVINHO, PAULO DE OLIVEIRA

32 Panteao dos Duques de Braganca, Igreja dos Agostinhos, em Vila Vicosa
A intervencao estrutural como prioridade
 LUIS PEDRO MATEUS

34 Conflito de escalas e salvaguarda da paisagem urbana historica
 JOAO MASCARENHAS MATEUS

35 O Novo Codigo dos Contratos Publicos
O Regime dos Erros e Omissoes
 A. JAIME MARTINS

38 Divulgação
0 Museu Geologico - Urn tesouro do nosso patrimonio

39 Notícias

42 Agenda

44 Vida Associativa

46 e-pedra e cal
0 "cartao de visita"
 ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO

47 Livraria

49 Associados GECoRPA

52 Revista "Monumentos" Uma publicacao exemplar em risco?
 NUNO TEOTONIO PEREIRA

Preço: 4,48 €

N.º 37
Conflitos de Escala


Os empreiteiros andam, agora, mais contentes. Pelo menos os grandes… Basta ler as crónicas e entrevistas do presidente da sua federação ou, mesmo, os títulos do jornal da AECOPS, para o constatar. E têm boas razões para isso: anunciam-se mais aeroportos, mais auto-estradas, mais pontes, mais caminhos-de-ferro, mais, mais, mais… sem olhar à rendibilidade de muitas dessas obras e, sobretudo, sem olhar à sua ineficácia enquanto estratégia de desenvolvimento.
Toda a gente sabe que a construção é uma actividade de baixíssimo valor acrescentado, logo de reduzido contributo para o PIB. Também se sabe que a construção não produz bens ou serviços transaccionáveis, logo não contribui para as exportações nem para a competitividade do País. Sabe-se, finalmente, que os empregos que cria são de baixa qualificação, logo de salários que não podem corresponder às aspirações dos portugueses. No entanto, a “política do betão”, que julgávamos definitivamente ultrapassada, aí está de novo, e em força: um modelo gasto, baseado na ilusão de que a economia cresça à sombra das obras públicas.

A todas as escalas, Portugal parece andar às voltas, se não ao contrário do que devia: à escala planetária, em lugar de se aproximar das metas de Quioto, afasta-se, porque o peso futuro do transporte rodoviário, que já é o principal consumidor de energia final no nosso país, ainda vai aumentar; à escala territorial, porque em lugar de preservarmos o património natural, esbanjamo-lo, permitindo a ocupação do litoral e das zonas protegidas com os inefáveis “resorts”, esquecendo-nos que já somos, na Europa, o país em que a artificialização da orla costeira mais tem crescido; à escala urbana, porque se deixam ao abandono muitos dos centros históricos e dos bairros antigos, mas crescem os dormitórios suburbanos e surgem, de vez em quando, projectos desgarrados de torres fora de escala, à moda do Dubai; finalmente, à escala dos edifícios, porque a reabilitação em grande não arranca e continuam a predominar as intervenções avulsas, sem ao menos se conseguir ter em conta que a unidade construtiva e estrutural é o quarteirão e não o edifício.
 
Opta-se, geralmente, por intervenções cosméticas, ou então desmantela-se o “miolo” dos edifícios antigos, empalhando-os com uma nova estrutura de betão armado.
Estarei a ser derrotista? Talvez. Mas será este o caminho para a “sustentabilidade”, a todas estas escalas? É assim que se põe em prática a apregoada Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável? Alguém sabe para onde é que nos levam estas políticas?
Vendo bem, Portugal está como a Alice no País das Maravilhas, quando pedia ajuda ao Gato:
“Cheshire Puss,... Diz-me, por favor, em que direcção devo ir a partir daqui?”
“Isso depende muito de onde é que queres chegar,” disse o Gato.
“Não me preocupa muito onde…”, disse Alice.
“Nesse caso não importa a direcção a seguir”, disse o Gato,
“… desde que eu chegue a ALGUM SÍTIO”, explicou Alice.
“Oh, de certeza que conseguirás”, disse o Gato “desde que andes durante bastante tempo.”
Nós também havemos de conseguir chegar a ALGUM SÍTIO! Já para lá caminhamos há bastante tempo e está visto que vamos continuar! Não vamos é ter a sorte de descobrir, quando lá chegarmos, que era tudo apenas um pesadelo…
 
Vítor Cóias


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