Revista Pedra&Cal

Património e Ambiente

Indíce

02 Editorial

03 Quadro de Honra

04 Paisagem enquanto património
 Alexandre D’Orey Cancela D’Abreu

07 Reabilitação Energética dos Edifícios
 Vítor Cóias, Susana Fernandes

11 Projectos “PIN” e Zonas Protegidas
Um caso de atracção fatal
 VÍTOR CÓIAS

16 Recuperação e valorização do Jardim da Sereia
Parque de Santa Cruz, Coimbra
 FÁTIMA BASÍLIO

18 A intervenção na Cerca do Mosteiro de São Martinho de Tibães, em Braga
 MARIA JOÃO DIAS COSTA

20 Conservação e valorização do Jardim Botânico da Universidade do Porto
 FERNANDO PINHO

21 Museu Abade de Baçal, Bragança
Remodelação do jardim
 FILIPE FERREIRA

22 Serralves 1932-2007
 VICTOR BEIRAMAR DINIZ

24 Guardião da portela reconvertido na Peneda Gerês
 ELISABETE BIZARRO, HENRIQUE REGALO

25 Estudo prévio das anomalias existentes Em dois muros de suporte de terras do Parque da Liberdade
 JOÃO PIRES

26 Santuário do Bom Jesus do Monte
Projecto de Arquitectura Paisagista para o Adro e Envolvente da Igreja
 PAULO FARINHA MARQUES, MARIA JOÃO DIAS COSTA

28 O Jardim Botânico do Rio de Janeiro
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro nasceu sob a graça do príncipe regente D. João, recém-chegado ao Brasil com a corte portuguesa, com a invasão de Portugal por Napoleão
 HUGO SEGAWA

30 Património Geológico e valorização dos territórios
 ÍCARO FRÓIS DIAS DA SILVA

32 Os Arrendamentos Comerciais à luz da Nova Lei do Arrendamento
 A. JAIME MARTINS

34 Cartas & Convenções
Carta de Florença Sobre a salvaguarda de jardins históricos ICOMOS, Florença, 21 de Maio de 1981

38 Notícias

39 Agenda

40 Vida Associativa

42 Divulgação

46 O último paraíso
 ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO

47 Livraria

49 Associados GECoRPA

52 A propósito do sucesso da trienal de Arquitectura
Um desafio
 NUNO TEOTÓNIO PEREIRA

Preço: 4,48 €

N.º 34
Património e Ambiente


Aliviada a febre construtora dos anos 90, tudo indicava que a estratégia passaria a ser gerir, o melhor possível, um parque habitacional sobredimensionado e remediar, aqui e além, os excessos de um crescimento urbano desordenado. O programa Polis inscrevia-se nessa linha. Surgiram, assim, os arranjos nos centros históricos, os embelezamentos de frentes de rua, as novas rotundas e vias rápidas, mais as pracetas ajardinadas e os respectivos fontanários. Gastaram-se mais uns tantos milhões de euros comunitários que poderiam ter tido aplicação mais nobre e rentável, mas, "do mal o menos": tínhamos as nossas cidades mais ou menos "de cara lavada" e podíamos, agora, começar de novo, com planos directores municipais revistos e com novos planos de ordenamento do território.

Infelizmente, não é assim. Eis que surge a ideia dos projectos PIN (Potencial Interesse Nacional) e que alguém no ministério da economia acha que tal inclui ocupar as melhores zonas da reserva ecológica, da reserva agrícola, dos parques naturais e da orla costeira, com os chamados "resorts" e as urbanizações de "turismo residencial".
Estamos novamente perante um exemplo de uma boa ideia que é aproveitada de modo perverso: no sistema PIN fala-se na produção de bens e serviços transaccionáveis de carácter inovador, na interacção e cooperação com entidades do sistema científico e tecnológico, na criação de emprego qualificado, na eficiência energética, no favorecimento de fontes de energia renováveis e na defesa do ambiente, mas depois atribui-se a chancela PIN a projectos imobiliários que nada têm a ver com isto.
 
Estamos, agora, a assistir a um desastre bem mais grave do que a expansão urbana em mancha de óleo. A betonização do solo já não estende só as suas metástases a partir dos núcleos urbanos: ataca agora de forma generalizada, insidiosa, salpicando aqui e ali as zonas protegidas, progredindo ao longo da orla costeira, derrubando montado e urbanizando dunas. Já não se constroem só apartamentos, mas sim moradias unifamiliares de grande área, com elevados consumos de água e energia, integradas em vastas infra-estruturas com pesados custos ambientais de manutenção. Trata-se de uma forma de habitar com substancial acréscimo da "pegada ecológica"1 que usa e abusa da principal riqueza do país – o seu património natural – e gera empregos de baixa qualificação, logo pouco remunerados e sem possibilidade de corresponder às expectativas dos nossos jovens. Como a maior parte dos empreendimentos está em mãos estrangeiras, os lucros das operações imobiliárias serão inexoravelmente exportados.

Se o nosso clima é convidativo e o nosso país hospitaleiro, em lugar de "resorts", incentivem-se os parques empresariais; em vez de reformados ricos e ociosos, atraiam-se empresas avançadas e os seus quadros jovens e activos.

Os "resorts" e o turismo de residência podem dar muito dinheiro a ganhar a alguns, mas são um mau negócio para o País.
 
Vítor Cóias


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