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Aliviada a febre construtora dos anos 90, tudo indicava que a estratégia passaria a ser gerir, o melhor possível, um parque habitacional sobredimensionado e remediar, aqui e além, os excessos de um crescimento urbano desordenado. O programa Polis inscrevia-se nessa linha. Surgiram, assim, os arranjos nos centros históricos, os embelezamentos de frentes de rua, as novas rotundas e vias rápidas, mais as pracetas ajardinadas e os respectivos fontanários. Gastaram-se mais uns tantos milhões de euros comunitários que poderiam ter tido aplicação mais nobre e rentável, mas, "do mal o menos": tínhamos as nossas cidades mais ou menos "de cara lavada" e podíamos, agora, começar de novo, com planos directores municipais revistos e com novos planos de ordenamento do território.
Infelizmente, não é assim. Eis que surge a ideia dos projectos PIN (Potencial Interesse Nacional) e que alguém no ministério da economia acha que tal inclui ocupar as melhores zonas da reserva ecológica, da reserva agrícola, dos parques naturais e da orla costeira, com os chamados "resorts" e as urbanizações de "turismo residencial". Estamos novamente perante um exemplo de uma boa ideia que é aproveitada de modo perverso: no sistema PIN fala-se na produção de bens e serviços transaccionáveis de carácter inovador, na interacção e cooperação com entidades do sistema científico e tecnológico, na criação de emprego qualificado, na eficiência energética, no favorecimento de fontes de energia renováveis e na defesa do ambiente, mas depois atribui-se a chancela PIN a projectos imobiliários que nada têm a ver com isto. Estamos, agora, a assistir a um desastre bem mais grave do que a expansão urbana em mancha de óleo. A betonização do solo já não estende só as suas metástases a partir dos núcleos urbanos: ataca agora de forma generalizada, insidiosa, salpicando aqui e ali as zonas protegidas, progredindo ao longo da orla costeira, derrubando montado e urbanizando dunas. Já não se constroem só apartamentos, mas sim moradias unifamiliares de grande área, com elevados consumos de água e energia, integradas em vastas infra-estruturas com pesados custos ambientais de manutenção. Trata-se de uma forma de habitar com substancial acréscimo da "pegada ecológica"1 que usa e abusa da principal riqueza do país – o seu património natural – e gera empregos de baixa qualificação, logo pouco remunerados e sem possibilidade de corresponder às expectativas dos nossos jovens. Como a maior parte dos empreendimentos está em mãos estrangeiras, os lucros das operações imobiliárias serão inexoravelmente exportados.
Se o nosso clima é convidativo e o nosso país hospitaleiro, em lugar de "resorts", incentivem-se os parques empresariais; em vez de reformados ricos e ociosos, atraiam-se empresas avançadas e os seus quadros jovens e activos.
Os "resorts" e o turismo de residência podem dar muito dinheiro a ganhar a alguns, mas são um mau negócio para o País. Vítor Cóias