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Uma das primeiras preocupações da conservação de um bem cultural – no caso, um edifício ou uma construção com valor enquanto património arquitectónico – é a manutenção da sua apresentação, isto é, da forma como ele se revela a quem o observa ou dele desfruta. Uma intervenção de conservação não deve perturbar a leitura ou interpretação que os observadores ou usufrutuários podem fazer do bem cultural.
Face a este requisitos, poder-se-ia pensar que, nos trabalhos de consolidação ou reforço de fundações, seria possível operar com toda a liberdade, dado que, ficando a intervenção oculta no subsolo, o seu impacto na apresentação do monumento ou edifício histórico seria nulo. Esta lógica não resiste, no entanto, a uma reflexão mais profunda. Desde logo porque uma intervenção desajustada nas fundações pode levar à criação de desequilíbrios na forma como as cargas da superstrutura são transmitidas ao terreno, o que, mesmo que seja a prazo, pode dar origem a lesões estruturais no bem a conservar.
Em segundo lugar, há que ter em conta que o bem cultural não é apenas a sua parte visível: para além dos seus elementos de fundação – maciços, abóbadas, estacas – que dele são parte integrante, há uma envolvente estrutural que engloba a parte do terreno que o suporta e que com ele interage. Qualquer intervenção naqueles elementos ou nesta envolvente interfere com a “autenticidade tecnológica” da construção. Em terceiro lugar, há que ter em conta os riscos para o património arqueológico que, frequentemente, subjaz ao edifício histórico, património esse que pode ser destruído através da utilização de técnicas demasiadamente agressivasde engenharia de fundações. Esta problemática foi ventilada no âmbito da Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ISSMGE), designadamente na conferência de Osaka, o ano passado. Mais recentemente, na reunião de Nicósia da Comissão Científica Internacional para a Análise e o Restauro das Estruturas do Património Arquitectónico (ISCARSAH), do ICOMOS, ficou patente a necessidade da concepção e da execução de intervenções em fundações de monumentos e edifícios históricos serem encaradas com a mesma prudência e respeitando requisitos idênticos aos das intervenções na sua parte visível.
Porque se trata de matéria pouco divulgada no nosso meio técnico ligado à conservação do património histórico-arquitectónico, e procurando contribuir para uma maior qualidade das intervenções, a Pedra & Cal dedica o seu 31.º número a esta temática. Vítor Cóias, Director