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Por vezes, o adjectivo “velho” significa qualidade e carácter: veja-se o caso do “whisky velho” ou do “Porto velho”… Mas é raro: “velho” surge, normalmente, conotado com uma ideia de “decadência” ou de “degradação”, em particular se o adjectivo é usado a seguir ao substantivo. É o que acontece quando se trata de edifícios. Ao conceito de “velho” contrapõe-se, naturalmente, o de “antigo”: descrever um certo edifício como “antigo”, pressupõe que se fez ou se tenciona fazer algo para, pelo menos, travar o seu processo de degradação, isto é, para o conservar ou preservar. Desejavelmente, até, procurar-se-á restituir tal edifício a um estado semelhante ao que apresentava quando foi construído, ou seja, promover o seu restauro. Intervenções de conservação ou de restauro justificam-se se o bem em causa possuir um valor intrínseco que interessa salvaguardar. Tal valor pode ser de diversa natureza: valor histórico, se o edifício está associado a um evento ou personalidade historicamente importante; valor arquitectónico, se representa uma época, um estilo ou é um trabalho de um grande arquitecto, valor tecnológico, se é um exemplo de uma tecnologia construtiva relevante, entretanto abandonada e, até, o valor como antiguidade, ou seja o valor associado, simplesmente, à própria idade do edifício.
Quando se fala de edifícios antigos é necessário distinguir entre os que surgiram nas cidades e os que foram construídos em ambiente rural. Quanto aos primeiros, é conhecido o seu enorme peso no parque edificado das cidades portuguesas: assim, por exemplo, na cidade de Lisboa, se, para simplificar, se tomar como referência a tecnologia construtiva, mais de 60 por cento dos 53 170 edifícios existentes, têm a sua estrutura resistente constituída por paredes de alvenaria, podendo ser considerados antigos. É claro que nem todos merecerão realmente ser classificados como “antigos”, sendo alguns simplesmente “velhos”… Aliás, a definição de critérios para distinguir os primeiros dos segundos já é, em si, um problema. Os segundos, os edifícios de habitação, geralmente, unifamiliares – ou casas – que foram construídas em ambiente rural, podem, ainda, ser divididas em dois grandes grupos: as que se incluem na chamada arquitectura “popular”, ou “vernácula”, de carácter por vezes precário, construídas, no passado, pelas populações rurais utilizando uma grande variedade de materiais e técnicas (tema de capa do n.º 25 da P&C), e as construídas, ao longo de séculos, pelas famílias tradicionais portuguesas, sobretudo ligadas à antiga aristocracia rural. Estas últimas constituem o universo das “Casas Antigas”, a que o presente número da P&C é dedicado. Segundo a Associação Portuguesa das Casas Antigas (APCA), estimam-se em 10 000 as unidades passíveis de incorporar aquele universo. Conforme Hugo O’Neill, presidente da APCA, refere na entrevista que concedeu à P&C, muitas dessas casas estarão em ruínas e dificilmente serão recuperáveis. Mas uma boa parte é recuperável e encontra-se, até, razoavelmente conservada e em funcionamento. Esse acervo construído representa um activo muito importante para o País, em termos culturais e em termos económicos. Ao contrário dos novos resorts de luxo que, por todo o País, vêm acelerando a artificialização das melhores zonas, as casas antigas inscrevem-se perfeitamente no conceito de turismo sustentável. Proporcionam, além disso, ao nossos visitantes, uma forte componente cultural, ausente na maior parte daqueles empreendimentos.
O esforço que vem sendo feito pelos proprietários, agravado pela própria vetustez dos edifícios, merece, portanto, o apoio da administração central e local, quer ao nível das intervenções de conservação ou reabilitação, quer ao nível dos projectos de valorização – turísticos ou de outra natureza – que permitam aos proprietários rentabilizar as suas infra-estruturas.
Duas notas finais: 1 – Cessou o contributo que o ilustre Arquitecto Nuno Teotónio Pereira vinha trazendo à P&C, através dos sábios e oportunos textos que davam corpo à secção “Perspectivas”, uma das mais apreciadas pelos nossos leitores. Na carta que nos escreveu, dando-nos conta das suas actuais limitações de saúde, Nuno Teotónio Pereira recomendava-nos um subs- tituto: José Aguiar, um amigo de longa data do GECoRPA, parceiro em várias iniciativas da área do Património e colaborador da P&C desde o n.º 0.
2 – A P&C conta, a partir deste número, com um Conselho Redactorial alargado, que contribuirá, certamente, para dar à revista um novo alento e uma nova dinâmica.
Agradeço a Nuno Teotónio Pereira o interesse e o tempo que, desde o princípio, dedicou à Pedra & Cal e espero poder continuar a contar com a sua colaboração, sob a forma que entender mais adequada.
Agradeço, igualmente, a José Aguiar e aos novos membros do Conselho Redactorial a disponibilidade para participarem no projecto editorial do GECoRPA, a bem do Património Arquitectónico do nosso País.