Revista Pedra&Cal

Património e Ciência

Indíce

02 Editorial

04 Património da ciência
O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
 CARLOS FIOLHAIS

06 Território Antigo
Da arqueologia da paisagem à re-encenação virtual interactiva
 JOSÉ EDUARDO MATEUS, PAULA FERNANDA QUEIROZ

10 Técnicas nucleares e de luminescência na reconstituição da história da edificação de monumentos
As épocas de construção de um monumento gravadas na memória dos minerais e da pedra
 MARIA ISABEL PRUDÊNCIO, MARIA ISABEL DIAS, CHRISTOPHER BURBIDGE, MARIA JOSÉ TRINDADE

13 A lacuna pictórica
Metodologias de interpretação e análise
 FREDERICO HENRIQUES, ALEXANDRE GONÇALVES, ANA BAILÃO, ANA CALVO

16 O propósito e a escolha da pedra
Condicionantes petrológicas e geoquímicas
 ZENAIDE C. G. SILVA, NUNO LEAL

20 Recuperação de edifícios pombalinos
Aspectos técnicos e viabilidade económica
 RITA BENTO, MÁRIO LOPES

23 A degradação do branco de chumbo
O carbonato de chumbo básico, ou branco de chumbo (lead white, biacca, blanc de plomb), foi o pigmento branco mais usado em obras de arte até ser substituído por outros menos tóxicos como o branco de titânio ou de zinco
 CRISTINA AIBÉO

25 Igreja de Santa Maria da Vitória – Mosteiro da Batalha
Implementação de um sistema piloto de protecção isotérmica
 FÁTIMA DE LLERA, MAFALDA ALEGRE, CARLOS VITORINO

27 Tratadismo e património
O Renascimento assumiu a memória das antiguidades romanas como atitude de referência a valores sociais, humanos e até políticos, o qual pretendia reacender sentimentos positivos das comunidades do espaço italiano à luz da tradição identificável dos s
 DOMINGOS TAVARES

28 Casas do Lagar
Reconstrução de cinco moradias
 FILIPE FERREIRA

29 Valorização do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de Coimbra
Contemporaneidade e Passado... O Sítio devolvido à cidade e ao País
 ARTUR CÔRTE-REAL

32 Marcas das Ciências e das Técnicas pelas ruas de Lisboa
Sabe a causa porque os hospitais mais antigos ficavam nas encostas sobre o Tejo ou porque o Intendente se chama assim? Por acaso, já alguma vez saboreou os nomes dados a largos e pátios lisboetas ligados às artes e ofícios, como ao industrialismo set
 ANA LUÍSA JANEIRA

34 Bento de Jesus Caraça
Militante da cultura integral do indivíduo
 JORGE REZENDE

38 As Leis do Património
O Ajuste Directo na modernização do parque escolar- Só obra nova ou também reabilitação?
 A. JAIME MARTINS

39 Notícias

41 Formação

42 Agenda

43 Vida Associativa

46 Os Atlantes
 ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO

47 Livraria

49 Associados GECoRPA

52 Reabilitação do património
Duas Inglesas muito cultas que nos fazem reviver o passado
 NUNO TEOTÓNIO PEREIRA

Preço: 4,48 €

N.º 42
Património e Ciência


O presente número da Pedra & Cal propõe-se corresponder ao apelo lançado pelo ICOMOS e secundado, em Portugal, pelo IGESPAR, a propósito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado, este ano, ao tema geral em título. A selecção deste tema visava, segundo o ICOMOS, proporcionar uma reflexão sobre as múltiplas facetas da relação entre a ciência e o património e, bem assim, sobre as oportunidades e ameaças que a primeira encerra no tocante à salvaguarda e à conservação do segundo.

Ora, a Ciência, produto essencial da natureza humana, constitui, ela própria, um património vivo, dinâmico, em permanente construção, que cada geração aprofunda e acrescenta… herança intangível, mas carregada de consequências para todas as espécies que povoam a biosfera e para os ecossistemas de cujo equilíbrio depende a vida sobre o Planeta.
 
A Ciência surge, também, como geradora de património tangível, através das suas construções, objectos, instrumentos e documentos, em particular os utilizados na investigação, no ensino e na divulgação. São exemplos da salvaguarda deste património intervenções recentes, como a do Laboratorio Chimico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, distinguido com uma menção honrosa na reedição, em 2008, do Prémio GECoRPA, ou a do Museu da Ciência, descrito no artigo de Carlos Fiolhais (p. 4), por coincidência instalado no edifício de outro Laboratorio Chimico, mais antigo, o da Universidade de Coimbra.

As várias disciplinas da Ciência constituem, por outro lado, instrumentos para o conhecimento do património, como é ilustrado, neste número, por trabalhos como o de Maria Isabel Prudêncio, Maria Isabel Dias, Christopher Burbidge e Maria José Trindade (p. 10), sobre métodos avançados para conhecer a “história” da construção inscrita nos seus materiais, ou o de José Eduardo Mateus e Paula Fernanda Queiroz (p. 6), este último pondo, até, em evidência a dualidade património natural / património cultural, ao trazer à superfície (literalmente) os traços deixados pela evolução de um e outro, em camadas sucessivas de lamas, lodos e turfas.

O conhecimento assim obtido serve ainda, ele próprio, de suporte para outras tarefas em que outras disciplinas da Ciência são chamadas a intervir na salvaguarda e conservação do património: o levantamento, o diagnóstico, a terapêutica, a intervenção, a monitorização…

Mas a Ciência surge, ainda, quando ao serviço da ganância e cupidez, como “arma de destruição maciça”, quer do património cultural – as comunidades tradicionais e a diversidade
cultural – quer do património natural – os ecossistemas terrestres e a diversidade biológica. E não fica, infelizmente, por aqui, o lado oculto e sombrio da Ciência ou da sua emanação directa, a Técnica: elas constituem-se, também, como geradoras de “património negativo”, quando subordinadas ao desenvolvimento insustentável, criando uma “pesada herança” cujo ónus recai sobre as próximas gerações: os “elefantes brancos” e as construções de difícil e onerosa exploração que os vindouros vão ter de rentabilizar e reabilitar, as lixeiras (incluindo as de resíduos radioactivos), brownfields, rios e minas que eles vão ter de limpar e revitalizar,
os guetos, subúrbios e regiões deprimidas que vão ter de reinserir e reordenar.

Compete à presente geração, sem dúvida, salvaguardar e transmitir aos vindouros o património cultural que recebemos das gerações passadas. Mas compete-nos também não acrescentar a “pesada herança” que delas recebemos. Tal só é possível com estilos de vida e padrões de desenvolvimento compatíveis com o conceito de sustentabilidade, ou seja, em respeito pela economia de recursos, pelo equilíbrio ecológico e pelos valores culturais e espirituais locais.
 
Vítor Cóias
 


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