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Comentário ao restauro das pinturas da Capela Sistina

Capela Sistina, com
Capela Sistina, com "O Juízo Final" de Michelangelo ao fundo, em 2005

Os dinamizadores e defensores da iniciativa, em particular o Vaticano, congratulam-se com os resultados atingidos principalmente através da valorização estética e visual após a limpeza das superfícies, e garantem que as pinturas se encontram em bom estado de conservação.

O Vaticano e a Capela Sistina em particular, assumem-se estes dias como o centro mediático do mundo, concentrando todas as atenções com a eleição de um novo Papa para a Igreja Católica.

O protagonismo deste ato eleitoral, e a aproximação da data em que o restauro realizado aos frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina completa 20 anos, constituem mote mais do que suficiente para evidenciar que a discussão sobre esta intervenção ainda se encontra "a fresco".

Os dinamizadores e defensores da iniciativa, em particular o Vaticano, congratulam-se com os resultados atingidos principalmente através da valorização estética e visual após a limpeza das superfícies, e garantem que as pinturas se encontram em bom estado de conservação, estando também a desenvolver um sistema climático artificial que garante a preservação das pinturas, mesmo com os elevados níveis de poluição e humidade atingidos, principalmente com a entrada de milhões de visitantes no espaço ao longo do ano.

No entanto, vários especialistas em arte, principalmente ingleses, opuseram-se desde cedo à intervenção de restauro realizada, e beneficiam do mediatismo atual em torno da Capela Sistina para reclamar para si a razão, ao apontarem os malefícios resultantes dessa mesma intervenção, pela remoção de colas e pintura a seco sobreposta à pintura a fresco, que consideram ter sido aplicadas durante a empreitada de Miguel Ângelo, e na maior suscetibilidade a que a obra de arte se encontra sujeita, principalmente pela utilização de soluções químicas na limpeza das superfícies durante o processo de restauro.

Embora ambas as partes tenham argumentos válidos para justificar a sua ação vs não ação face à obra de arte, e reconhecendo que a análise particularizada deste assunto requer um tempo e um espaço que não se presta a este comentário, importa salientar desta oposição de opiniões, que o consenso de ideias e princípios na ação direta sobre o património cultural continua inatingível em muitos casos, mas que esse conflito não deve ser uma ocasião para a crítica a princípios basilares da preservação do património, como se refere o artigo sua parte final: "devíamos pagar aos restauradores para não fazerem nada", tanto mais que esta intervenção foi alvo de uma intensa atividade de estudo e análise na época, em que muitos especialistas que hoje contestam o seu resultado, foram na época apologistas dessa mesma iniciativa.

Em suma, o propósito da intervenção de restauro deverá ser uma oportunidade para, através da multidisciplinaridade dos intervenientes, aprofundar os conhecimentos adquiridos, desenvolver métodos de exame e análise e apostar na inovação de materiais e técnicas ao dispor dos profissionais, de modo a garantir novas possibilidades que permitam a preservação efetiva do património cultural e a sua fruição pela sociedade, sem que isso contribua para a perda de autenticidade da obra de arte.

Visualização online do interior da Capela Sistina: http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html

Joel Duarte Claro, Conservador-restaurador

11/03/2013

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