Num artigo da autoria de José Manuel Rocha, intitulado “Edifícios construídos em Portugal caem para um terço em uma década” (“Público” de 15 de março, pág. 18) compara-se o número edifícios construídos e licenciados em 2013 com os que o foram em 2003, para se apresentar como algo mau para o País o facto de terem encerrado centenas de empresas de construção e sido despedidos milhares de trabalhadores deste setor.
Seria bom que o autor tivesse tido em conta, nas suas comparações, os excessos a que se chegou na construção no princípio da última década: Em 2007, segundo o Eurostat, apesar da construção já se ter reduzido drasticamente, Portugal tinha ainda, em relação ao PIB, 3 vezes mais empresas de construção e 2,6 vezes mais recursos humanos do que a média dos países da União Europeia (UE-27).
Tendo em conta que a produtividade do setor da construção é de apenas cerca de 50% da média do País e que o setor ocupa 11,2% dos recursos humanos do País mas contribui apenas com 5,7% para o PIB, conclui-se que o que foi mau para a economia do País foi ter havido tantas empresas e tanta gente a trabalhar na construção durante tanto tempo. A redução do número de empresas de construção pode ser penosa no curto prazo, mas a médio prazo permite uma correção que é benéfica para a economia -- desde que se invista na requalificação e reciclagem dos recursos humanos da construção.
Em resultados dos excessos acima referidos, existem em Portugal, segundo os Censos 2011, 1 868 000 alojamentos sem ocupação permanente, dos quais 734 800 estão totalmente devolutos. Este último número equivale a mais do dobro dos alojamentos de Lisboa e dá para cobrir as necessidades do País em alojamentos novos durante duas décadas! O rendimento dos portugueses diminuiu, sem dúvida. Mas a diminuição do número de edifícios construídos deve-se mais à completa saturação do mercado com uma oferta largamente excedentária e ao esgotamento da capacidade financeira das famílias portuguesas, que ainda vão levar muitos anos a pagar as casas que adquiriram, a preços muitas vezes especulativos.
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