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Edição
58
Patologia e Reabilitação de Edifícios

Exigência, precisa-se

"Voi sapete le medicine, essendo bene adoperate, rendon sanità ai malati, e quello che bene le conosce, ben l’adopererà… Questo medesimo bisogna al malato domo, cioè uno medico architetto, che’ntenda bene cosa è edifizio, e da che regole il retto edificare diriva..."

Esta citação, retirada duma carta de Leonardo da Vinci à comissão fabriqueira da Catedral de Milão, ilustra o paralelismo entre os métodos da medicina e os da patologia dos edifícios e respetivo tratamento, ou reabilitação.

A patologia e reabilitação dos edifícios, em particular do património monumental e dos edifícios antigos, vem constituindo o tema de uma série de conferências trienais, promovidas, desde 2003, pelo Prof. Vasco de Freitas, da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em colaboração com os seus colegas da Universidade Politécnica da Catalunha e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em março deste ano decorreu a 5.ª edição desta série, a "PATORREB 2015", à qual o presente número da Pedra & Cal é dedicado. Nele se inclui uma seleção de artigos em que se focam, de forma sintética, as principais questões tratadas na mais recente edição das conferências PATORREB. Deste conjunto de artigos ressalta, tal com na carta de Leonardo da Vinci, o elevado grau de especialização inerente a este segmento de atividade e, por consequência, a qualificação que deve ser exigida aos profissionais e empresas que a ele se propõem dedicar.

Portugal viveu, nos anos do virar do século, uma euforia construtiva que se fez sentir, com particular intensidade, na construção de edifícios. A alocação de dezenas de milhares de milhões de euros à construção habitacional é, reconhecidamente, uma das causas do excessivo endividamento das famílias, da degradação dos indicadores dos bancos e da perda de competitividade do País.

Felizmente, a tónica do imobiliário e da construção está, hoje, na manutenção e na reabilitação do edificado e da infraestrutura construída. No entanto, pairam no ar várias ameaças que podem anular as oportunidades oferecidas à sociedade por esta mudança de paradigma: o facilitismo no acesso aos alvarás de empreiteiro e no licenciamento das obras de reabilitação; a desadaptação da legislação do setor da construção, persistentemente centrada na construção nova; o enfoque dos currículos das escolas de engenharia e arquitetura na construção nova; a falta de operários e de quadros intermédios qualificados; a postura demasiado corporativa das ordens profissionais e das grandes associações empresariais do setor.

A conjugação destas ameaças abre o caminho para uma reabilitação à trouxe-mouxe, promovida por operadores imobiliários motivados pelo lucro imediato ou vista como tábua de salvação de um setor da construção ancilosado e excedentário. Para o evitar, é urgente estimular uma cultura de exigência, a começar pela qualificação dos profissionais e das empresas que concebem e executam as intervenções.

O País precisa de Donos-de-Obra mais exigentes e de menos construtores, mas melhores construtores. Uma maior exigência de qualificação da força de trabalho e do tecido empresarial do setor da construção fará aumentar o seu valor acrescentado, logo, o seu contributo para o crescimento da economia. Uma maior qualificação traduz-se em maior qualidade do serviço prestado, o que significa maior eficácia e durabilidade das intervenções, menor desperdício, melhor cumprimento de orçamentos e prazos, logo, economias para as entidades adjudicantes, públicas ou privadas. As empresas de construção mais qualificadas, em termos de organização e de tecnologia, são mais estáveis, podem pagar melhores salários e estão em melhor posição para trabalhar além-fronteiras, aumentando as exportações.

Em suma, o estímulo à qualificação dos recursos humanos e das empresas da construção, além de contribuir para a eficácia das intervenções nos edifícios, de acordo com a citação de Leonardo da Vinci, permitirá melhorar o contributo do setor para a economia e para a sociedade.

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