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Edição
36
Património Arquitectónico Português em Marrocos

Há uma ligação multissecular entre a história de Portugal e a de Marrocos. O arco de tempo por ela abrangido nasce no século VIII, quando a Berbéria funciona como base para as sucessivas vagas da conquista islâmica da Península Ibérica. A ponta de lança é constituída pelas tribos Omíadas, mas são os Abássidas que acabam por dominar as comunidades paleocristãs e transformar grande parte da Ibéria num califado, sediado em Córdova. A partir do século IX inicia-se a reconquista do território peninsular pelos cristãos, mas duas novas vagas de tribos berberes, primeiro os Almorávidas, depois os Almôadas, contrariam o avanço cristão e reconquistam território. Em 1147, num derradeiro refluxo cristão, Lisboa é retomada. No entanto, é preciso esperar mais um século, até que o domínio da coroa cristã de Portugal se consolide, finalmente, no Algarve.Por esta altura a presença berbere na península já se restringe ao reino de Granada, onde é construído o palácio de Alhambra, talvez o símbolo por excelência da presença muçulmana na Ibéria – a qual, no entanto, perdura até ao fim do século XV, ou seja durante mais dois séculos.As investidas portuguesas no território que constitui hoje o Reino de Marrocos iniciam-se em 1415, ano da tomada de Ceuta, a primeira testa de ponte, e prolongam-se ininterruptamente durante quase quatro séculos, até 1769, ano da retirada de Mazagão, actual El Jadida.Dos nove séculos de existência de Portugal como nação e estado, seis foram, assim, vividos em intercâmbio belicista com os povos do Magrebe Ocidental. Dessa “convivência” sobram, para os tempos de hoje, uma grande afinidade cultural e as marcas indeléveis de um notável património arquitectónico, de um lado e de outro do oceano.Do lado marroquino, os testemunhos físicos da presença portuguesa assumem a forma de majestosas construções defensivas, localizadas ao longo da costa Norte e Oeste.É a essas construções, hoje veneradas por portugueses e marroquinos, que é dedicado o presente número da Pedra & Cal, fruto de uma estreita colaboração com o Instituto de Estudos Hispano-Lusófonos, de Rabat, e dos contributos de especialistas de um e de outro país.Não deixa de ser curioso que o que foi construído no passado sob o signo da guerra entre religiões seja hoje traço de união entre culturas. Curioso, mas também saudável e reconfortante: numa época ensombrada pelo recrudescimento de uma nova forma de fascismo religioso, tal facto é um bom motivo para termos esperança de que a liberdade,a tolerância e a solidariedade prevalecerão.

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