É típico das sociedades menos desenvolvidas terem dificuldade em aproveitar bem todos os recursos de que dispõem. Ao contrário, assiste-se, nos países mais "ricos", a um desperdício menor, tirando-se partido dos recursos de uma forma mais rigorosa e eficaz. Por isso, os países pobres e atrasados são-no, em grande parte, mais por culpa própria do que alheia. Portugal dispõe de valiosíssimo e variadíssimo património, seja na esfera cultural – de que o património arquitectónico é apenas uma parte – seja na esfera natural, com as suas serras e planícies, os seus estuários e o seu extenso litoral. O património móvel e, também, o património dito integrado, isto é, aqueles bens culturais que fazem parte ou estão fisicamente adstritos aos imóveis, e que pela sua natureza e história se tornou bem cultural, são exemplos de recursos que bem poderiam ser melhor explorados, se postos ao serviço de um turismo de qualidade. É essa a ideia que ressalta do conteúdo deste número da Pedra & Cal. Sofremos, no entanto, o estigma dos pobres: em lugar de procurar visitantes cultos e selectivos, que nos escolham como destino turístico para connosco usufruírem a nossa herança histórica e a nossa riqueza natural, parecemos apostados em maximizar o turismo de sol e lua - praia durante o dia e copos durante a noite – fórmula enganosa de que outros, mais avisados, se estão a livrar1. De facto, os nossos governantes arranjam todos os meios – legais ou ínvios – para "agilizar" o licenciamento de mais urbanizações, mais hotéis, mais resorts, aparentemente esquecidos de que somos um país pequeno, de que a nossa infaestrutura de abastecimento de água e saneamento não pode suportar tanta gente e de que importamos quase tudo o que esse turismo massificado consome: desde a comida com que se alimenta até à energia e aos combustíveis que gasta. Isto no curto e médio prazo: porque a longo prazo os danos de uma tal política – de que se vão sentir os nossos filhos e netos - são incalculáveis: uma orla costeira betonizada, o melhor das nossas áreas protegidas resortizadas e os nossos centros históricos embalsamados no meio de um urbanismo caótico. Estarei a ser catastrofista? Receio bem que não, se não mudar a visão de quem nos governa e, sobretudo, se não contribuirmos para que surja rapidamente uma massa crítica de cidadãos responsáveis e exigentes, que estimulem e promovam essa mudança. 1 Manuel Castells, em recente entrevista ao "Público": "...esse modelo é insustentável porque é mais fácil fazê-lo noutros países do Terceiro Mundo, mais baratos e menos deteriorados ambientalmente." V. Cóias e Silva, Director
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