Ser associado do GECoRPA pode abrir-te a porta a um mundo de oportunidades! Se tens 40 anos ou menos, junta-te a nós, aproveitando a campanha Associado Júnior+
Por onde andaram, os Portugueses construíram. Sobretudo fortalezas, para defender as praças e feitorias onde se estabeleceram, mas também igrejas e outras construções religiosas, palácios para alojamento dos representantes do poder, ou simples habitações e lojas destinadas aos colonos e ao seu comércio. Assim aconteceu por todo o império, desde as capitanias do Brasil até às costas da Malásia, de Timor e da China. Assim aconteceu na África Ocidental e Oriental portuguesas. Obras que foram feitas para durar, e duraram. Construções que os descendentes dos antigos colonizados hoje prezam e de que nós nos podemos orgulhar, testemunhos que são de uma gesta, por vezes truculenta mas, no todo, engrandecedora. Construíram e continuam, hoje em dia, a construir. Mas, em vez de o fazerem em paragens longínquas, os portugueses de hoje preferem construir no seu próprio quintal. E a construção deixou de ser ditada pela necessidade de defender contra a cobiça das potências rivais ou a agressividade de um ambiente inóspito: passou a ser, vezes de mais, o resultado de uma conjugação de interesses ilegítimos e ligações sombrias. Também deixou de ser feita para durar: em vez de séculos, os novos construtores contentam-se com escassas décadas.
Começa-se, agora, a ver que não pode ser assim, e, por todo o mundo, os decisores começam a aceitar que a geração a que pertencem tem um dever em relação às gerações que se seguirão, dever esse bem expresso no compromisso ético para a sustentabilidade na engenharia civil do ECCE (Conselho Europeu dos Engenheiros Civis): “Empregaremos a nossa determinação e influência profissional para o benefício do bem-estar das futuras gerações de todo o mundo”.
Volta-se, esperemos, à boa construção: à obra que não é feita para satisfazer a cupidez de certos promotores ou a ambição de certos autarcas, mas no interesse da sociedade no seu conjunto, tendo em conta que não somos donos dos recursos, mas apenas, e durante um certo tempo, seus gestores e usufrutuários. Sendo o edificado e a infra-estrutura construída a principal parcela do investimento fixo de um país, boa construção significa ajudar a gerir bem esse investimento, mantendo-o em bom estado e prolongando a sua vida útil. Boa construção significa construir apenas onde é preciso e apenas o que é preciso. Por isso, em lugar de tentarem espremer o depauperado PIDDAC, ou os magros orçamentos das autarquias, os construtores portugueses devem concentrar-se numa nova e nobre missão: Partir para os locais onde as populações realmente deles precisam: curiosamente, muitos dos lugares onde os construtores portugueses do passado deixaram obra durável. Em vez de se baterem, neste rectângulo já tão betonizado, por mais projectos faraónicos, de utilidade e rentabilidade duvidosa, devem dirigir a sua influência e o poder do seu lóbi para os centros de decisão comunitários. Portugal, com a experiência que lhe advém do facto de ser uma das três mais importantes antigas potências coloniais africanas, está em posição de vantagem para, através dos seus empreiteiros, contribuir para a melhoria das condições de vida das populações do continente negro, e, com isso, tirar partido dos fundos que a Europa para tal vai canalizar. Alguns empreiteiros portugueses já disso se aperceberam e já estão no terreno. É preciso que outros sigam o exemplo e a febre construtora baixe em Portugal, a bem do que resta do nosso património natural e das nossas cidades e aldeias históricas. É preciso que a boa construção substitua a má construção. Vítor Cóias, Director