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No seu livro “Les sept savoirs nécessaires à l’éducation du futur”, Edgar Morin destaca a importância do ensino da compreensão, como meio e fim da comunicação entre humanos, face à extraordinária diversidade das culturas que hoje se confrontam na aldeia global. A compreensão é o caminho por excelência para aceitar o outro, e desse modo, atacar as raízes da guetização e das suas manifestações extremas, o racismo e a xenofobia.
A coexistência na aldeia global de milhares de milhões de humanos com antecedentes culturais tão variados será impossível se, a par de uma adesão generalizada aos valores universalmente reconhecidos, o essencial das suas referências identitárias não for salvaguardado e respeitado. Nesse sentido, a divulgação da noção de património cultural imaterial, a partir de uma iniciativa de um conjunto de intelectuais marroquinos ligados à UNESCO e consolidada na convenção para a salvaguarda do património cultural imaterial, adoptada pelos estados membros em 2003, é uma etapa recente mais decisiva.
O património cultural passou, assim, a englobar não só as construções, as esculturas, pinturas e outros objectos físicos – o património cultural material – que recebemos das gerações passadas e de que tanto nos orgulhamos, mas também o património cultural imaterial: tradições orais, saberes ancestrais, músicas, cantares e danças tradicionais, ou seja, todo um conjunto de referências identitárias tão importantes para certas comunidades humanas como os monumentos e edifícios históricos são para outras.
É justamente ao Património imaterial que a P&C dedica este derradeiro número de 2010, o seu décimo segundo ano de edição contínua. Quarenta e nove números (contando com o “número zero”, publicado ainda em Novembro de 1997) e outros tantos temas de capa focados, quase duas mil e setecentas páginas de conteúdos relacionados com a conservação do Património e a reabilitação do edificado, a P&C precisa de se transformar, para se adaptar à evolução das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) e aumentar a sua presença na Internet.
Fecha-se, com o presente número, um ciclo da P&C. A partir do próximo número a nossa (vossa) revista adoptará um novo figurino e uma nova orientação e tenderá, ela própria, a “desmaterializar-se” e a apoiar-se cada vez mais na Internet em vez do papel, em linha com a renovação e revitalização do sítio de Internet do GECoRPA. Esta mudança é natural. Nos doze anos do actual formato da revista, assistimos a uma rápida evolução na acessibilidade à informação. As velocidades de transmissão de informação são hoje de 120 Mbps, quando em 1997 era, no máximo, de 2Mbps. A utilização da Internet sofreu evolução vertiginosa. Em 1997, em Portugal, a Internet era utilizada por menos de 6% da população. Em 2010 estima-se que este número tenha ultrapassado os 57%. O aumento de clientes da Internet condicionou a quantidade de domínios registados e activos. Se em 1997 seriam cerca de escassos milhares, hoje este número situa-se na ordem do milhão.
Os computadores pessoais diminuíram no tamanho e cresceram no desempenho. As memórias RAM passaram de poucas centenas de Mb para perto de uma dezena de Gb e os “discos rígidos” de cerca de 20 Gb para mais de 50 Gb. Novos gadgets ajudam a substituir o papel: iPads, e-Books, meios de informação muito mais dinâmicos e potentes, onde o vídeo, como complemento dinâmico e sonoro da imagem, ocupa um lugar cada vez mais importante, proporcionando uma qualidade crescente.
Tudo isto impõe mudanças, e a P&C não é excepção. A “missão” a que eu me referi no editorial do n.º 0 da Pedra & Cal – ajudar os profissionais e as empresas da conservação do Património a fazerem um melhor trabalho – não mudou, e muito menos está completa. Talvez nunca o esteja, enquanto houver Património e mulheres e homens interessados em o conservar. Quero, por último, agradecer a todos os que colaboraram e acompanharam o projecto Pedra & Cal, e, em particular, aos Autores e aos membros do Conselho Redactorial, o generoso contributo que deram à revista ao longo destes doze anos.